Corpo e mente em equilíbrio

A meditação favorece o bem-estar e traz benefícios psicológicos a longo prazo, segundo recente estudo sobre os efeitos da prática zen no cérebro.

Esvaziar a mente e focar no momento presente, sem deixar que os pensamentos sobre o passado ou futuro interfiram na sua concentração. Esse é o primeiro passo da meditação, também conhecida como mindfulness, que tem raízes no budismo de mais de 2.500 anos.

O objetivo da técnica milenar é que ela seja aplicada no dia a dia, seja em casa ou no trabalho.
Independentemente do contato ou não com a religião budista, para qual a meditação é essencial, são muitos os benefícios para os praticantes: relaxamento, diminuição do estresse e ansiedade, além do aumento do equilíbrio emocional.

“Corpo e mente são intimamente ligados”, explica o professor de meditação do Centro de Estudos Nãrãyãna, Arthur Shaker Fauzi Eid. “Vivemos eestresseados e como a mente está sempre aflita, o cérebro tem uma atividade sofrida, causando problemas cardíacos, respiratórios, gastro-intestinais e até infartos”, complementa. O treinamento tem também como objetivo desenvolver a sabedoria e o desapego aos bens materiais e às pessoas.
Reações no cérebro

Recentemente, uma pesquisa internacional divulgada pela Psychiatry Research: Neuroimaging analisou, pela primeira vez, os efeitos da meditação mindfulness ou viapassana, no cérebro de não praticantes. Jovens, de 25 a 55 anos, que nunca haviam meditado foram submetidos à técnica milenar por oito semanas, período após o qual suas ressonâncias magnéticas foram comparadas as de um outro grupo que não teve contato com as aulas.

A pesquisa foi realizada pela Harvard Medical School, em parceria com a Universidade de Massachussets, e publicada no site do jornal científico da universidade, Harvard Gazette.

A diretora do Centro de Estudos Nãrãyãna, Maria Helena de Bastos, coloca em prática os ensinamentos.

“Foi registrado um aumento na concentração de massa cinzenta no hipocampo esquerdo e em outras regiões, que são justamente áreas relacionadas à experiência de auto-consciência do corpo e do espaço ao redor”, explica Sonia Bruck, vice-coordenadora do departamento de neurologia cognitiva e do envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia.

Em outras palavras, a análise demonstrou que a prática traz benefícios cognitivos e psicológicos a longo prazo, associados à memória, autoconsciência, empatia e estresse, o que significa que o praticante não se sente melhor apenas porque está relaxando momentaneamente.

Como meditar?

E como aderir à prática? Marina Prates, 33 anos, que trabalha em uma ONG, conheceu a meditação há dois anos, por meio de um retiro espiritual em que era necessário ficar dez dias em silêncio. Para ela, o principal entrave inicial era manter a postura e permanecer tanto tempo parada na mesma posição.

Já Clara Coelho, 23 anos, teve contato com a técnica na Índia e ressalta a dificuldade de relaxar sem sentir sono e de se concentrar. “Quando você menos percebe, começa a pensar no que tem que fazer amanhã, na briga que teve com a amiga ou no barulho do ambiente”, diz. Por motivos como esses, Clara só conseguiu meditar depois de um mês, em uma ecovila de permacultura na Tailândia.

O professor Arthur afirma que todos esses obstáculos são comuns e que há diversas formas de superá-los. Para estimular a concentração, alguns métodos utilizam mantras e visualizações, como o fogo. Outros, como a meditação da plena atenção, vipasana ou mindfulness, focam no próprio praticante e em sua respiração. Caso o pensamento fuja, o melhor a fazer é aceitá-lo e deixar passar, sem se perder nele. “Se você ficar com raiva desses devaneios, aí que não conseguirá se concentrar”, ensina Arthur.

Para pessoas muito agitadas, há ainda a possibilidade de meditar andando ou fazendo outros tipos de exercícios. “Muitos pensam que é só sentar meia hora e pronto, mas não é, a meditação deve ser levada a sua vida. Praticamos para que a mente aprenda a incorporar um estado meditativo e saiba aplicar na rotina, seja dirigindo, na fila do banco ou no trabalho”, diz Arthur.

Durante os seis meses na Índia, Clara fez curso de formação em ioga e atualmente dá aulas na cidade de Campinas. A meditação entrou na sua rotina naturalmente e hoje em dia pratica, principalmente, pelas manhãs.
Marina Prates também aderiu à técnica zen, mas a correria do dia a dia às vezes dificulta o exercício diário. “Mas sinto uma grande diferença no dia em que medito e no dia que não medito. É como se eu fizesse uma limpeza interna espiritual e consigo lidar melhor com os desconfortos do dia e preveni-los com mais seriedade”, conta Marina.

Por Marjorie Ribeiro
Fonte: Guia da Semana

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